sexta-feira, 1 de maio de 2009

Deus ouve música?

Essa frase pode estar buscando revelar o cuidado que devemos ter para mantermos ‘mãos limpas e coração puro’ em nossa adoração

Deus não ouve música; mas, sim, adoração. Ao ouvir essa frase, senti muito desconforto e até mesmo um pouco de tristeza... Não sei o que mais incomodou: se foi o mal-estar em pensar que Deus (fonte de toda inspiração humana) não se interessaria pela construção de melodias, harmonias e ritmos de uma composição, ou se a tristeza veio com o pensamento de que meu Senhor, não ouvindo música, me permitiria ignorar a forma de executar sons e louvores em Sua presença. O Senhor, alvo de minha canção, estaria ouvindo ‘somente’ meu coração? Imagine a sensação de um escultor ao perceber que não precisaria preocupar-se em como ou que ferramentas usar para construir uma obra de arte, pois seu mestre não estaria interessado em sua criação, mas somente na intenção ao construí-la!!! Pensar que Deus não ouve música chocou meus sentimentos e ‘visão musical’ para entoar ou conduzir um grupo vocal na execução de uma canção. Segundo a Palavra de Deus, esta deve ser cantada ‘com júbilo e com arte’ (Sl. 33:3b). Não vou me deter no fato de que Deus se interessa pelo nosso interior, pois o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração (I Sm. 16:7). Entendo que a frase “Deus não ouve música; mas, sim, adoração” pode estar buscando revelar o cuidado que devemos ter para mantermos ‘mãos limpas e coração puro’ em nossa adoração. Preocupa-me somente ouvir, a partir dessa declaração, em um ensaio de grupo de louvor, nossos ministros concluírem que Deus quer ‘somente’ ouvir nossa intenção. Seria isso verdade? Por que, então, tantos personagens bíblicos lançam mãos de instrumentos musicais e ‘cantam’ sua alma ao Senhor? Por que o Espírito de Deus permitiria conhecimento a mestres da música erudita, cujas composições têm, nas letras, descrições da Palavra de Deus? Alguns deles não ficariam esquecidos com o tempo, mas seriam conhecidos também por glorificar a Deus em suas obras. Podemos citar Haydn, Haendel, entre outros... Quando debilitado e no fim da vida, ao ouvir sua composição sobre “A criação”, Haydn ergue sua voz e diz – “Toda a glória de minha música eu devolvo a Deus”. Dentre as músicas de Haendel, sua obra mais famosa - o Messias foi composta em apenas 24 dias, um tempo irreal para o seu tamanho (obra na qual encontramos o conhecidíssimo Aleluia). Haendel teria registrado sua sensação ao escrevê-la: “Acredito verdadeiramente ter visto o céu aberto e o próprio Deus diante de mim”. Sobre o Messias, o jornal da cidade de Dublin menciona: “A mais perfeita obra de música (…). O sublime, o grandioso e comovente deram-se as mãos para arrebatar o coração e o ouvido…”. Poderíamos ignorar a força da Palavra de Deus na vida desses homens que a absorveram e escreveram sobre o nosso amado Jesus? Tais apontamentos dissiparam um pouco minha perturbação e tristeza... Mas argumento maior podemos encontrar na Palavra de Deus: o Salmo 45 (único cântico de amor do saltério) é dedicado a quem? Ao Ungido de Deus e sua noiva: “Ao Rei consagro o que compus...”. No versículo 8, ele canta: “Todas as tuas vestes recendem a mirra, aloés e cássia; de palácios de marfim ressoam instrumentos de cordas que te alegram”. Em Mt. 26:30, após cearem juntos, o próprio Jesus e os discípulos, “(...) tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras”. Por fim, em Apocalipse 15:3, os vencedores “(...) tendo harpas de Deus, entoarão cânticos de Moisés (...) e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!” Que prazer constatar que o Mestre dos levitas ‘ouve música’. Sim, Ele ouve sons musicais que O alegram. Aleluia!!!
Patrícia GuimarãesMestre em Musicologia, bacharel em canto lírico, pianista e regente de corais como os da Igreja Metodista e das Meninas Cantoras de Juiz de Fora(MG). Colunista da Revista Eclésia

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